"Resistência é uma palavra boa"- transcrição de depoimentos gravados na Aldeia Maracanã, com representantes de algumas das mais de 300 etnias indígenas que habitam o Brasil, resistindo a ameaças e perseguições /// "Resistance is a good word" - written with excerpts transcripted from recorded speeches at Aldeia Maracanã, with representatives from some of the more of 300 indigenous nations from Brazil, resisting threats and persecutions/// 11/2012 - 03/2013. /
segunda-feira, 25 de março de 2013
quarta-feira, 20 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
Que os nossos povos deixem de ser perseguidos / May our people cease to be persecuted
"Você estar aqui é
importante, mas eu acho que o mais importante é o que você vai levar daqui. Você
tem que levar, tem que fazer seu papel de brasileira. Se você é brasileira você
tem algum sangue indígena, bisavós, tataravós, então tem que mostrar um
pouquinho desse sangue indígena a favor dos povos indígenas, que foram
massacrados por quinhentos anos."
"Que a força do grande Sol
Central ilumine todos os corações, que a força do grande Sol Central transmute
as energias contrárias a este povo, que a força do grande Sol Central possa
tocar os corações daqueles que nos perseguem, que a força do grande Sol Central
possa tocar o coração do nosso Governador, o coração do nosso prefeito, o
coração da nossa Presidente. E que os nossos povos deixem de ser perseguidos,
deixem de ser caçados como animais. Que a força do grande Sol Central possa nos
fortalecer."
"You being here is important,
but I think the most important is what you will get from here. You have to do your
part as Brazilian. If you are Brazilian you have some Indian blood,
grandparents, great-grandparents, then you have to show a little bit of this Indian
blood in favor of indigenous peoples, who have been massacred for five hundred
years."
"May the strength of the
great Central Sun illuminate all hearts, may the strength of the great Central
Sun transmute the energies contrary to this people, may the strength of the
great Central Sun touch the hearts of those who persecute us, may the strength
of the great Central Sun touch the heart of our Governor, the heart of our Mayor,
the heart of our President. And may our people cease to be persecuted, cease to
be hunted down like animals. May the strength of the great Central Sun
strengthen us."
Katuahí
"A gente já fez trabalhos nas
escolas e tem gente que não sabe nem quem é o avô. A gente sabe bisavós,
tataravós, todos os nomes, as histórias, tudo. Chegar nas escolas e as crianças
sem saberem nem quem é o avô... É triste pra gente. É a história dele que é
apagada. Não é só com a gente."
"Quinhentos anos, não mudou
nada. Falaram que mudou muito, mas... não mudou nada."
"Falta katuahí, o muito bom, para todos. É o que eu quero para todos, e é
o que não tem para todos, é o que falta."
"We've done work in schools
and some people do not even know who are their grandfathers. We know our great-grandparents,
grandparents, all the names, stories, everything. We arrive in the schools and the
children don’t even know who is the grandfather... it's sad for us. It’s their
history being erased. It’s not just with us."
"Five hundred years, nothing
has changed. They say that too much has changed but... nothing has
changed."
"It’s a lack of katuahí, the very good, to all of us.
It’s what I want for everyone, and it's what doesn’t exist for everyone, what
is missing."
quinta-feira, 14 de março de 2013
Um lugar sagrado / A sacred place
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"Todo nosso sustento, todo nosso
fortalecimento vem da Mãe Terra."
"Casa é muito importante,
todos tem que ter um kijeme, um lugar
sagrado, em que a gente resiste, com a família.
"Aqui é onde a gente pode ter
um trabalho da gente, vender artesanato, a gente vem pro Rio de Janeiro pra
isso também. Se a gente não tiver essa casa aqui, vai ficar aonde? Se não tiver
aqui a gente vai ficar na rua."
"O artesanato, a nosso
cultura, é meio de sobrevivência."
"All our livelihood, all our
strength comes from Mother Earth."
"Home is very important,
everyone has to have a kijeme, a
sacred place, where we stand with the family.”
"Here is where we can have a
job, sell our crafts; we come to Rio de Janeiro for that too. If we do not have
this house here, where will we stay? If not here, we will stay on the streets."
"The craft, our culture, it’s
a means of survival."
terça-feira, 12 de março de 2013
A joyful word / Uma palavra alegre
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"Resistance
is a good word, a joyful word, of success; everyone's after this dream."
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"Resistência é uma palavra
boa. Uma palavra alegre, de sucesso, todo mundo anda atrás desse sonho."
Uma palavra de tristeza / A word of sorrow
"Desaparecimento é uma
palavra de tristeza, ninguém é feliz com essa palavra, a gente não gosta nem de
falar essa palavra, desaparecimento. Ninguém quer desaparecer, ninguém quer
sumir, ninguém quer acabar."
"Disappearance is a word of
sorrow, no one is happy with this word. We do not like to speak this word,
disappearance. Nobody wants to disappear, no one wants to go away, no one wants
to end up."
segunda-feira, 11 de março de 2013
About Aldeia Maracanã / Sobre a Aldeia Maracanã
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The ruined building that currently
houses the Aldeia Maracanã dates from the 19th century and had all its history
linked to the indigenous nations of Brazil:
"The building of Aldeia Maracanã was a former imperial mansion
donated by the Duke of Saxe to be the first research institute of indigenous
culture in Brazil, and it would come to host the first Indian protection agency,
in 1910, founded by Marshall Rondon. In 1953, the building was transformed by
Darcy Ribeiro into the Indian Museum, being abandoned in 1977 and donated to
the National Supply Company (Conab) in 1984. In 2006 a group of indigenous
people, aware of the historic value of the building, made the occupation
-->and created a
cultural center there."(link to original text in portuguese)
This center is now being
threatened by the government, that wants to expel the indians, demolish the
building and create something else in
its place. First, a car park. Now, a museum to exhibit olympic medals.
Since it was confirmed that the World
Cup and the Olympics would be in Brazil, the interests linked to the real
estate speculation started to deserve an unjustifiable support from the local
government. The historic building and the community living there have been threatened
in a succession of events that reached the height of truculence on the morning
of January, 12, 2013, when an armed Shock Battalion from Military Police
surrounded the building. Throughout the day, dozens of supporters - students,
artists, activists, lawyers, laborers - entered the place, jumping over the
wall that was not under siege and putting up with the Indians. After a few
hours, in the afternoon, the battalion had to withdraw. But the threats
continue, as well as the disrespect to the indigenous people, the citizens of
Rio and the culture and history of Brazil.
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O prédio em ruínas que atualmente
abriga a Aldeia Maracanã data do século XIX e teve toda sua história vinculada
aos povos indígenas do Brasil:
"O prédio da Aldeia Maracanã foi um antigo casarão imperial doado
pelo duque de Saxe para ser o primeiro instituto de pesquisa de cultura
indígena no Brasil, e que viria a abrigar o primeiro órgão de proteção indígena
em 1910, fundado pelo Marechal Rondon. Em 1953, o prédio foi transformado por
Darcy Ribeiro em Museu do Índio, sendo abandonado em 1977 e doado à Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) em 1984. No ano de 2006 um grupo de
indígenas, conscientes do valor histórico do prédio, fizeram a ocupação e
criaram ali um centro cultural." (link para o texto original)
O prédio histórico e a comunidade
que ali habita vêm sendo ameçados em uma sucessão de eventos. Primeiro, o
prédio seria demolido para dar lugar a um estacionamento; depois, seria reformado
para se tornar um museu de medalhas e troféus olímpicos.
Desde a confirmação da realização
da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil, os interesses da especulação
imobiliária vem encontrando um injustificável apoio do governo local. O auge da truculência aconteceu na manhã de 12/01/2013, quando policiais
armados do Batalhão de Choque da Polícia Militar cercou o prédio. Durante o
dia, dezenas de apoiadores - estudantes, artistas, ativistas, advogados,
operários - entraram na Aldeia, pulando o muro que não estava sob cerco e
colocando-se junto aos indígenas. Depois de algumas horas, à tarde, o Batalhão
teve que se retirar. Mas as ameças continuam, assim como o desrespeito ao povo
indígena, ao cidadão carioca e à cultura e à história do país.
terça-feira, 5 de março de 2013
E isso não é falado / And this is not spoken
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"A gente vem pra cidade pra estudar - e também mostrar
a nossa cultura, como é que a gente vai mostrar se só ficar na nossa aldeia, vai
ensinar pra quem? Pra quem já sabe como é? A gente tem que ensinar e mostrar a
cultura, a verdade, o que que é cada cultura de cada povo, que não é igual. Falam
o "índio", mas não é o índio, são os povos indígenas, são 300 e
poucos povos diferentes, línguas diferentes, culturas diferentes. E isso não é
falado, não é discutido e isso aqui, esse espaço é pra isso, pra você mostrar
sua cultura. Não tem um lugar que o povo indígena chegue e possa mostrar sua
cultura. Esse lugar já era indígena, a gente tem que defender."
Um dos depoimentos gravados em 12-01-2013, quando o batalhão de choque cercava a aldeia. A situação pode se repetir a qualquer momento.
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Um dos depoimentos gravados em 12-01-2013, quando o batalhão de choque cercava a aldeia. A situação pode se repetir a qualquer momento.
"We came to the city to study
- and also to show our culture; how will we show it if we just stay in our
village, will teach to whom? To those who already know it? We have to teach and
show the culture, the truth, how is every culture of every nation, they are not
equal. They speak of “the Indian", but it is not “the” Indian, there are many
indigenous folks, they are more than 300 different nations, different languages,
different cultures. And this is not spoken, it’s not discussed, and here, this
space, is for it. To show our culture. There is not one single place where
indigenous people can come and show their culture. This place was already indigenous, we have to defend it."
One of the speeches of a resident in Aldeia Maracanã in January, 12, 2013, when an armed Shock Battalion from Military Police was surrounding the building.
One of the speeches of a resident in Aldeia Maracanã in January, 12, 2013, when an armed Shock Battalion from Military Police was surrounding the building.
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